terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sobre o assunto mais falado do dia - Rolezinho no Shopping



Exemplo de experiência própria. Estava em um shopping em Campinas, não lembro qual, vindo de viagem de Jacareí. Parei por lá com meu pai e mãe. Por insistência minha, pois, gostaria de ver o jogo da seleção brasileira. Quartas de final contra a França, quando a amarelinha foi eliminada da Copa do Mundo de 2006. Por conta do nível elevado de emoção depois da derrota, e álcool, é provável, uma gritaria começou. Como modo de reprovar a atuação daquele grupo, ainda que não estivéssemos em um estádio. O clima foi crescendo em tensão a partir dos músculos da face de cada segurança, que se encrespavam, mais e mais. O despreparo dos funcionários do shopping resultou em ações espalhafatosas no momento crucial. Homens de preto se direcionam para um grupo mais exaltado. Um copo se quebra no caminho. Mais gritos, de outra espécie, desta vez é nervosismo. Já seguro minha mãe pelo braço e caminhamos para a saída. Ao deixarmos a praça de alimentação avistamos ao longe um foco de briga.

O medo se estabelece com um grito de mulher. Sua vinda ecoando por entre as galerias tem efeito de toque de recolher e as portas de metal correm para o chão, diante o nervosismo e desespero dos lojistas. Ao ver aquela cena qualquer pessoa com uma criança saiu em disparada. Um shopping sem vitrines é um dia sem sol, se lhe tomam o sol sem aviso o que resta é tempestade. Mães e pais mais descontrolados inflamavam os próprios filhos com seu medo. Choros de criança preenchem o fundo. As lojas se fechando e as vitrines são agora metal por onde roçam os corpos em disparada. Tudo vira um grande túnel e a saída é labiríntica. Com as escadas desligadas o fluxo fica desregulado e o vai e vem termina com a mobilidade.

Tropeções, escoriações, medo, por fim, sendo inalado a cada sensatez ignorada. O cada um por si impera a esta hora.

Eu já me encontrava ao lado do meu pai, em um canto, com minha mãe às nossas costas, protegida. A cada onda de pessoas em minha direção me agarrava à pilastra e a continha, de modo a proteger a velha. Saímos de lá no primeiro respiro em direção ao estacionamento. Nada era real, só o medo e o despreparo. O que de fato ameaçador havia ali? Nada. A normalidade fora quebrada e ninguém estava pronto para tanto. O comum e nada mais é o que se espera de um shopping center. Não é o lugar de se quebrar paradigmas, certo? Errado, pois justamente ali eles estão firmemente estabelecidos.

Vamos lá, para a zona leste.

Duvido que a maioria dos jovens que esteve lá, neste dia fatídico, estreou em um shopping. Todos conheciam e já tinham ido outras vezes para um shopping center, é óbvio. Portanto o que chocou lojistas, seguranças e outros visitantes foi o incomum: uma grande quantidade de molecada. Eles também esperavam algo diferente do shopping aquele dia, queriam chocar, mostrar sua cara, fazer seu número. O temido diferente! Humana(ou burra)mente o movimento de reação a este encontro foi combater o diferente.

Pelo lado dos jovens, fica difícil não ser o que a pressão social espera que você seja. Ainda mais quando a pressão se materializa em postura militar. Ainda mais quando você não é o único ator da calmaria ou ameaça pública. Uma vez provocados fatalmente alguns agiram de modo combativo. Revista, intimidação e olhares desconfiados. Sentir-se ameaçado(r) assusta. Animais enjaulados de lado a lado dentro do mesmo cercadinho. Suas limitações não mais que humanas.

A pegada é ostentação. Os valores da nossa geração são esses. Bacana é ostentar, é ter, que por sua vez é poder - comprar. Como julgar o resultado desta criação? Somos nós, somos assim.

Daí a afirmar que a alta sociedade não suporta ver o pobre frequentar o mesmo lugar que ela, ou que a culpa é da madame de cachorrinho no colo, é um baita exagero. O shopping Itaquera sequer é conhecido por este tipo de público. Como já disse e reafirmo: este local é frequentado por aqueles mesmos jovens também. O problema foi resultado da truculência diante o medo, em outra palavra: despreparo para com o fora do comum.

Se em grupo o ser humano emburrece, em multidão confinada não há espaço para decisões lógicas, não que precisemos nos decapitar. Basta tirar o ódio do nosso caminho.

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